O "doutor" Cinta
Antigo ensinamento diz que a nação que educa suas crianças não precisará punir seus adultos. É sabido, também, que o país que perde seus rituais, em família ou na sociedade, que deixa de incluir atos de civilidade e de convivência respeitosa entre os seus iguais, o que bastariam para ensinar as novas gerações sobre o significado dos valores éticos, como o respeito natural às crianças e a reverência aos idosos para ficar nesses dois itens , recorre ao expediente fácil de criar leis salvadoras, ou parte para a violência. Eis aí uma missão impossível: esperar que leis, decretos, regulamentos, por si sós, ensinem aos cidadãos o significado de gestos civilizados ou possam incutir no cérebro dessas pessoas o real significado dos valores éticos que, em regra, são aprendidos no seio da família.
É muito mais simples ensinar a criança, desde cedo, a ser cordial, o que começa com um bom dia!, ao acordar, até o ato carinhoso do beijo de boa noite, sempre com a presença vital dos pais na sua vida, seja na escola, no dentista, no médico ou em casa, interagindo com ela nas suas rotinas.
Quando isso não acontece pelo egoísmo e irresponsabilidade dos pais , a criança ou o jovem cria e molda a sua própria cultura, determina o seu comportamento e busca seus modelos em outros lugares, que vão desde influências negativas na rua, na TV, na internet e até na própria escola. Perdido o elo entre pais e filhos, já que a regra é cada um na sua, estabelece-se a afronta, a falta de respeito na família, e instala-se no jovem o vazio de valores éticos e o sentimento de que tudo posso. Aí é que surgem os salvadores da pátria. Imaginam que tudo pode ser recuperado com palmadas, após anos de negligências.
Pior ainda são aqueles que insuflam a violência física, simbolizada pelo que se cunhou como o Doutor Cinta, ou seja, a correção por meio da violência física. Grave engano. Nem cinta nem palmadas. O que pesa é a educação, a presença diária dos pais em casa, o respeito mútuo e o aperfeiçoamento humano da criança pelo caminho da ética e do exemplo da família.
Por Carlos Alberto Platt Nahas, Promotor de Justiça
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.